segunda-feira, 30 de julho de 2007

R.I.P. Ingmar Bergman


A morte do cineasta Ingmar Bergman aos 89 anos abalou nesta segunda-feira a sociedade sueca e o mundo do cinema, que há cinco décadas reconhecia unanimemente o diretor como um de seus grandes mestres. Bergman, considerado um dos diretores mais influentes da segunda metade do século 20, morreu em casa da ilha de Faro, no Mar Báltico, cercado pela família


Sua filha Eva Bergman, encarregada de dar a notícia, disse à agência de notícias sueca "TT" que a morte do cineasta foi "pacífica e tranqüila", mas não explicou as causas. "Eu o visitei na semana passada e já percebi que ele nos estava deixando. Era um homem velho que morreu calma e docemente em sua cama, um velho coração que deixou de bater", afirmou o genro do diretor, o escritor sueco Henning Mankell.


A notícia da morte de Bergman provocou uma chuva de pêsames de personalidades da cultura e da política suecas, entre elas o primeiro-ministro do país, Fredrik Reinfeldt."A obra dele é imortal. Espero que sua herança seja cuidada e desenvolvida por muitos anos", disse Reinfeldt em comunicado.


O cineasta nasceu 14 de julho de 1918 em Upsala, localidade que fica 70 quilômetros ao norte de Estocolmo. Seu pai foi um pastor protestante do qual recebeu um estrita educação, que marcou sua vida e obra, caracterizada - salvo exceções - pela inclusão de conotações metafísicas e um universo de problemas humanos fundamentais, como a falta de comunicação do casal, a solidão, Deus e a morte.


Bergman cursou o ensino básico em Estocolmo, onde também se formou em Arte e Literatura.



Apaixonado pelo teatro, principalmente o clássico, já na universidade dirigiu uma companhia de estudantes.


Após o fim dos estudos, concentrou sua atividade na cena, como autor e diretor.Após ser ajudante de direção no Real Teatro da Ópera de Estocolmo, esteve à frente do Teatro Municipal de Helsinborg (1944-1946), de Goteborg (1946-1949), de Malmoe (1954-1963) e do Real Teatro Dramático de Estocolmo (1963-1966 e 1985-1995).


Em 1976, se mudou para Munique, na Alemanha, onde também desenvolveu seu talento criativo, e em 1985 voltou à Suécia como diretor do Real Teatro Dramático de Estocolmo.


Nesta etapa, fez montagens como "A Menina Julie" e "O sonho", ambos de Strindberg; "Hamlet", de Shakespeare; "Longa jornada noite adentro", de Eugene O'Neill; "Casa de Bonecas" e "Peer Gynt", ambos de Ibsen; e "Conto de Inverno", de Shakespeare.


No final de 1995, deixou o Teatro Dramático para ficar responsável pelos espaços cênicos da televisão pública sueca "STV", onde foram transmitidas obras do diretor.


No cinema, seu começo foi com roteiros que escreveu para projetos próprios e alheios, casos dos diretores Gustaf Molander, Alf Kjellin, Lars Erik Kjellgren e Alf Sjorberg.


Ingmar Bergman, um dos fundadores da Academia Européia de Cinema em 1988, estreou na direção com o longa-metragem "Crise" (1945), "Chove em nosso amor" (1946), "Um Barco para a Índia" (1947), "Música na Noite" (1947), "Porto" (1948), "Prisão" (1948), "Sede de Paixões" (1949), "Juventude" (1951), "Quando as Mulheres Esperam" (1952), "Mônica e o Desejo" (1952), "Noites de Circo" (1953), "Uma Lição de Amor" (1954), "Sonhos de Mulheres" (1955), "Sorrisos de uma Noite de Amor" (1955) e "O Sétimo Selo" (1956).


Bergman começava a ser conhecido internacionalmente como um autor complexo, atormentado e obscuro.


Também destacam-se em sua trajetória os filmes "Morangos Silvestres" (1957, prêmio de melhor direção do Festival de Cannes de 1958), "A Fonte da donzela" (1959, Oscar de melhor filme estrangeiro e Prêmio Fipresci de Cannes), "Através de um Espelho" (1961, Oscar de melhor filme estrangeiro e agraciado no Festival de Berlim), "O silêncio" (1963), "Vergonha" (1968), "Cenas de um casamento" (1973), "O Ovo da Serpente" (1977), "Sonata de Outono" (1978) e "Fanny e Alexander" (1983).


Após esta última, premiada com quatro Oscar (filme estrangeiro, fotografia, cenário e figurino), iniciou um ciclo de filmes para a TV, como "Depois do Ensaio" (1984), "Diário de uma Filmagem" (1986) ou "Na Presença de um Palhaço" (1997).Seus roteiros posteriores foram levados ao cinema por outros produtores. Foi o caso do dinamarquês Bille August, de seu filho Daniel Bergman e de sua atriz favorita e ex-companheira Liv Ullman.Sua última obra para televisão foi como roteirista de "Bergmanova Sonata", em 2005.


Em 2004, a televisão sueca "SVT" transmitiu um documentário de 180 minutos, a cargo da jornalista Marie Nyreroed, sobre a vida e obra de Bergman na ilha de Faro.


Em 18 de julho, Bergman fez um último relato público, de uma hora e meia, sobre sua vida pessoal e artística em um programa ao vivo da "Rádio Nacional da Suécia".


Entre outras homenagens, Bergman possui os Prêmios Erasmus (1965), Internacional de Teatro Luigi Pirandello (1971) e Goethe (1976), a Medalha de Ouro da Academia Sueca (1977), o título de comendador da Legião de Honra francesa (1985) e a Palma de Ouro por sua carreira do Festival de Cannes (1997).


É autor de suas memórias, intituladas "Lanterna Mágica" (1987), e dos livros "Imagens" (1990) e "Conversas privadas" (1996), entre outros.


Considerava a si mesmo como um homem de teatro, "é toda minha vida", enquanto o cinema era para o diretor "um trauma e uma paixão", segundo ele.


Com oito filhos, Bergman foi casado cinco vezes. A primeira com Elsie Fischer, com quem teve uma filha. Depois com Ellen Lundstrom, que lhe deu quatro filhos (entre eles uma atriz, Anna).


Sua terceira e quarta esposas foram, respectivamente, Gun Hagberg, com quem teve um filho, e a pianista finlandesa Kabi Laretei, mãe de seu filho Daniel, também diretor de cinema. Sua quinta esposa, Ingrid von Rosen, morreu em 1995.


À margem destes casamentos, Ingmar Bergman teve relacionamentos com as atrizes Harriet Andersson e Liv Ullman, com quem teve sua filha Linn, jornalista.






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