terça-feira, 19 de junho de 2007

Quem é Alan Smithee????


Mas quem é Alan Smithee? É um dos nomes mais conhecidos em Hollywood. O início de sua carreira, no entanto, é incerto. Não há confirmação, mas registra-se que sua primeira experiência como diretor, não creditada, se deu em 1955 com um curta-metragem feito para TV chamado ''The Indiscreet Mrs. Jarvis''. Smithee ficaria incógnito até 1968, quando rodou ''Um Caso Policial'' (Fade-In), também para a televisão. No ano seguinte assina ''A Morte de um Pistoleiro'' (Death of a Gunfighter), filme que mais tarde se tornaria um quase clássico do faroeste.


Desde então seguiram-se algumas dezenas de trabalhos. Às vezes assinando Allan Smithee, outras Allen Smithee. Ele parecia não escolher quando estaria diante de um novo projeto. E Smithee fez de tudo um pouco. Além de dirigir - seu nome está em 48 filmes -, também foi assistente de direção, fotógrafo, compositor, roteirista. Como nunca aparecia (jamais concedeu uma entrevista e nunca foi fotografado), é até difícil de acreditar que ele tenha feito três pontas como ator: em ''Massacre no Country Club'' (Blades, 1989), fazendo um engenheiro; em ''Destino: Vegas'' (Destination Vegas, 1995), no papel de um policial; e em ''Errol Flynn - Meu Ídolo Esquecido'' (Flynn/My Forgotten Man, 1996), como um homem que se veste de preto. Em todos esses filmes, ele nunca mostra o rosto - era de se esperar.


Em 1996 a carreira de Smithee já vinha em declínio. Muitos já o apontavam como morto. Antes que Hollywood pensasse no luto pelo diretor, em 1997 um filme intitulado ''Hollywood Muito Além Das Câmeras'' (An Alan Smithee Film: Burn Hollywood Burn) cria certo alvoroço na indústria de cinema americano. A história era sobre um diretor que chega a Hollywood para fazer um filme e, diante de tantas interferências por parte dos executivos dos estúdios, ele decide que não colocará seu nome. E acaba assinando o projeto com um pseudônimo. Ao fazer tal provocação, a carreira de Smithee ficaria abalada para sempre.


Toda a história aqui contada é verdadeira, a não ser por um único detalhe. Alan Smithee não existe, nunca existiu. É um anagrama de ''The Alias Men'' (o homem apelido). Trata-se de um pseudônimo criado nos escritórios do Directors Guild of America (DGA, o sindicato dos diretores americanos) para que fosse usado por seus afiliados quando estes, descontentes, decidissem eliminar seus nomes verdadeiros dos filmes que sofreram mudanças radicais (interferência mesmo) sob a ordem de produtores e distribuidores.


''A Morte de um Pistoleiro'', na verdade, foi dirigido por Don Siegel e Robert Totten. O último poucos conhecem, mas ele foi um diretor conhecido na TV (assinou episódios de seriados famosos como ''Missão: Impossível'' e ''Magnum''). Totten morreu em 27 de janeiro de 1995. Já Don Siegel, morto em 20 de abril de 1991, foi descoberto primeiro pelos franceses - amantes dos filmes B do diretor - antes de conquistar a fama em Hollywood. Siegel era sócio de Clint Eastwood na produtora Malpaso. Com Eastwood no elenco, Siegel dirigiu sua obra-prima ''O Estranho que Nós Amamos'' (The Beguiled, 1971). Conta a história que o problema todo em torno de ''Pistoleiro'' é que os executivos da Universal Pictures decidiram cortar muitas cenas. Primeiro isso provocou intriga entre Siegel e Totten, porque cada um reinvindicava a não exclusão daquilo que cada um havia filmado. Depois ainda brigaram para saber qual nome apareceria primeiro nos créditos: Siegel e Totten ou vice-versa? Foi aí que entrou Alan Smithee.


O nome de Smithee sempre surgia nesses momentos. Muitos famosos recorreram a ele. John Frankenheimer não gostou das mudanças impostas para seu suspense ''Riviera'', feito para TV em 1987, e concedeu o crédito a Smithee. Dennis Hopper fez o mesmo em ''Atraída Pelo Perigo'' (Backtrack, 1989), filme que contava com elenco de peso: Jodie Foster, Dean Stockwell, Vincent Price e John Turturro. Sam Raimi, diretor de ''Homem-Aranha'', em 1992 escreveu com o irmão Ivan Raimi o roteiro da comédia ''The Nutt House''. Descontente com o resultado após as filmagens conturbadas, assinou como Alan Smithee. David Lynch, indicado ao Oscar de direção por ''Cidade dos Sonhos'', quase teve um surto quando assistiu à versão para TV de sua ficção científica ''Duna''. E já dá para adivinhar o que Lynch fez.


Tony Kaye por pouco não cedeu lugar a Smithee. Kaye dirigiu ''A Outra História Americana'', que rendeu ao ator Edward Norton uma indicação ao Oscar. O filme, um drama sobre um jovem neo-nazista, provocou uma intensa discussão entre o diretor e os executivos da New Line. Estes queriam promover inúmeros cortes na obra. Kaye bateu o pé, chamou o DGA e chegou a mencionar o nome de Alan Smithee. Os poderosos da New Line voltaram atrás na última hora.


O curioso é o seguinte. Alan Smithee ficou famoso demais. Originalmente era para ser apenas um truque, uma tática do DGA. Era para ser um pseudônimo, mas que deveria permanecer em sigilo. Somente aqueles que pertenciam à indústria deveriam conhecer, e ninguém mais. ''Smithee dirige de forma intensa as cenas de ação, além de pintar retratos convincentes para o elenco coadjuvante.'' Por incrível que pareça, essa crítica favorável ao diretor Smithee saiu na Variety, quando ainda não se conhecia a farsa. Mas a história logo foi descoberta e revelada pela imprensa. De repente o nome de Smithee foi ganhando reputação. Os produtores e executivos dos grandes estúdios até falaram com os membros do DGA, explicando que o pseudônimo não servia mais ao propósito original. Alan Smithee era por vezes uma piada, noutras embaraço público para os estúdios (bastava surgir o nome de Smithee e isso siginificaria um filme ruim). Mas em muitos casos usar Alan Smithee poderia servir como uma boa estratégia de marketing, na medida em que o nome acabou se tornando cult.


Veja por exemplo o caso de ''Os Pássaros - O Ataque Final'' (The Birds II: Land's End). A direção é de Rick Rosenthal, conhecido apenas na televisão por dirigir episódios de séries como ''Buffy the Vampire Slayer'', ''Early Edition'', ''Law & Order'', entre outras. Acredite: o filme, feito para televisão, tinha a pretensão de ser visto como a continuação de ''Os Pássaros'', clássico de Alfred Hitchcock feito em 1963. Boa coisa não poderia sair. Rosenthal inventou de reclamar, fez um jogo de cena e preferiu eliminar seu nome para dar lugar a Smithee.


E ''Hollywood Muito Além Das Câmeras''? É um filme/documentário engraçado, curioso, no qual podemos até conhecer melhor os bastidores de Hollywood. Virou cult e não há quem não o mencione em rodas de amigos. No filme o personagem principal é um diretor chamado Alan Smithee, que, não satisfeito com as ordens dos produtores, decide não assinar seu nome e para isso usa um pseudônimo. Era a revelação escancarada da farsa. Ironicamente, o diretor Arthur Hiller (sim, o mesmo de ''Love Story - Uma História de Amor'') renegou a autoria da obra e o filme acabou assinado pelo próprio Alan Smithee. Dizem que Hiller decidiu por isso porque brigou com os produtores e até com o roteirista Joe Eszterhas. Pode ser. Porque se o filme fosse mesmo tão ruim, até Eszterhas teria tirado seu nome. Ocorre que só para sacanear a turma do Razzie deu o prêmio de pior direção a Smithee e Hiller.


Ou seja, há vários casos em que o nome de Alan Smithee foi utilizado com a intenção de valorizar uma obra. Por isso mesmo o DGA vem discutindo há alguns anos a criação de um novo pseudônimo. Existe até a opção de que cada diretor escolha o seu próprio. O complicado, sempre, é manter tudo isso em segredo. Walter Hill, com ''Supernova'', tentou algo do gênero ao usar o nome Thomas Lee para assinar o trabalho. Não deu certo, claro, mas essa foi a primeira tentativa pós-Smithee.


Há muitos outros detalhes em torno da figura fantasma de Alen Smithee. É um nome que, desde a sua invenção, sempre esteve no centro de acirradas discussões. Ao mesmo tempo em que soa ridículo, representa também o amadurecimento de uma indústria cinematográfica, a americana, que com uma história tão longa e representativa pode se dar ao luxo de tamanha bizarrice.
Aqui temos a filmografia de Alan Smithee:
Fonte: E-Pipoca




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